introdução
O artista trabalha, inicialmente, seguindo impulsos. No início existe um “Sim”, algo não dizível se apresenta. Alguma coisa o move, um “ter que fazer”: tem que ser com determinada linguagem, com determinado material, com determinada forma, com determinada cor, que só pode ser aquela e, de maneira nenhuma, outra qualquer. De onde vem essa certeza ele naquele momento ainda desconhece.
Mas apesar de nem sempre saber o que o está movendo, o artista sabe exatamente o que deve fazer; o que não pode prever são as transformações que o seu fazer provocará, e aquilo que aparecerá como resultado. Não é apenas o que de início o moveu que importa, mas também aquilo que posteriormente emerge na obra. Trabalha para que aquilo que o afetou permaneça, e ao fazê-lo, somos inseridos no seu campo perceptivo.
A afecção persiste na obra, nos transforma, nos transtorna. Somos acrescidos de novas percepções, e após, não podemos ser mais os mesmos. O relacionamento com a obra é individual, não há como experimentá-la através de outro.
O artista explora a potencialidade expressiva dos materiais e linguagens que tornam o trabalho passível de ser lido plasticamente. Seu pensar é o próprio fazer. No processo não existe tranqüilidade. Vagueia entre a angústia e a plenitude, na urgência de atualizar.
O artista não afirma, faz pensar, e a obra é esse desejo de indagar por meio dela. Isso se passa a um nível tal que, por vezes, ele só consegue dar-se conta do que o afetou depois do trabalho concluído. A própria obra vai lhe dizer a que veio. Ela é autônoma e carrega, também, todas as possibilidades dela mesma, uma vez no mundo. E por se manifestar de uma forma inusitada, causa estranhamento.
É difícil para um artista falar do próprio trabalho. Por mais que dele fale ainda assim estará falando apenas do seu processo, e nunca do que o trabalho realmente é. Se pudesse falar não teria que fazê-lo. Só é possível “dizer”, através do trabalho. Dele emana algo que dá ensejo a que se crie um espaço de reflexão. A arte redimensiona as nossas certezas. Porém ela não é um meio de conhecer o real, o real é que permeia a obra.
O artista não cria nada novo, apenas dá a perceber uma das infinitas possibilidades de ser. Antes, apenas um potencial. A possibilidade de um trabalho existir, se fazer, já existe como possibilidade em si. Sem o artista a obra não se faria, porém é ela que nos faz fazê-la.
Assim, a trajetória de um artista é um caminho de descobertas, não sabemos aonde ela vai nos levar. O processo acontece sem palavras, a um nível não muito consciente. Mas não se trata de um nível inconsciente. É um outro espaço. Que espaço é esse?